“Não há nada mais chato do que fã de Star Wars”. Esse é um dizer comum dentro do próprio fandom. Nós sabemos como somos difíceis de agradar. Em nossa defesa tenho que dizer que somos um grupo de pessoas extremamente diferentes com idades completamente diversas. Eu, por exemplo, sou da velha guarda. Conheci Star Wars na fase clássica. O retorno de Jedi foi o primeiro filme que assisti no cinema. Tenho, por isso, um apego e carinho especial pela primeira trilogia, pois foi ela que me apresentou esse universo que amo tanto. No entanto, tenho amigos por volta dos 20, 30 anos que conheceram a saga nas prequels. Para eles, midclorians não são nenhum absurdo e A vingança dos Sith é o melhor filme de todos. Acham ridícula a luta entre Obi-wan e Darth Vader em Uma Nova Esperança e não posso julgá-los por isso.

Eu entendo. É outra época! Isso me faz entender ainda mais o terceiro grupo do fandom: o das sequels. A nova trilogia trouxe fãs adolescentes junto com Rey e Kylo-Ren. E eles tem uma expectativa totalmente diferente dos que eu ou meus amigos de 20, 30 anos têm. E aí Star Wars de tornou a bagunça que acreditei, como muitos outros fãs, acabaria por enterrar a saga de George Lucas de uma vez. Afinal, apesar de ter trazido algum retorno financeiro à Disney, não foi nada do que eles imaginaram. Principalmente se compararmos com o sucesso que a Marvel trouxe. A venda de produtos foi muito aquém do esperando e o episódio IX ficou muito pouco tempo nos cinemas. Pensou-se que por um bom tempo não se falaria mais de Star Wars. Isso, se a Disney não o colocasse na geladeira.

Foi aí que um sujeito de armadura, apresentados por dois apaixonados pela saga, fez tudo mudar. O texto é “Como Mandalorian salvou Star Wars”, mas podia ser facilmente “Como Jon Favreau e Dave Filone salvaram Star Wars”. E a resposta para isso é simples: Eles amam a saga. Eles entendem. Não precisaram aprender que se trata muito pouco de naves e sabres de luz. Que a força e os jedi são apenas um elemento da história. E, principalmente, sobre o que Star Wars realmente fala: humanidade, coragem, esperança. Sim, eu amo apaixonadamente as X-Wing, mas elas e os Tie-fighters não sustentam uma história, apesar de serem visualmente lindos. Eles jogaram o sabre de luz para trás (Não me xinguem pela referência) e nos trouxeram a essência de Star Wars.

O excesso de “fanservice” estragou, em boa parte o episódio IX. Na tentativa de agradar a todos acabou por forçar situações que nos deixou mais irritados do que felizes. Nisso, The Mandalorian dá uma aula. As referências são pontuais, trazendo um gosto de quero mais. Muitas vezes fazem piada de si mesmo, como dois Stormtroopers tentando acertar – sem sucesso, claro – um alvo. Quando eles trazem um personagem que conhecemos há um motivo para isso. Não sentimos como algo feito apenas para agradar. Eu confesso que chorei absurdamente ao ver minha tão querida Ahsoka Tano sair de Clone Wars e Rebels e se tornar real. Que perfeição aquilo! Não só em relação ao visual espetacular, tanto das lutas quanto da própria Rosario Dawson, mas porque as falas e o jeito dela me remetem ao que eu conheço da Ahsoka. É ela que está ali! Vou dar o exemplo apenas da Ahsoka, pois talvez você, leitor, ainda não tenha terminado a segunda temporada. Entretanto as surpresas não param por aí. Digamos que durante os últimos dez minutos do último episódio eu chorei igual criancinha. De soluçar!

Star Wars sempre chamou atenção pelo visual. Tecnicamente não há o que dizer. A ILM, empresa de efeitos visuais de George Lucas, é uma das mais inovadoras do mercado cinematográfico. Por ser uma série, não esperava pela mesma qualidade. Foi onde me enganei. O primor dos detalhes da produção, os efeitos especiais perfeitos são de encher os olhos. O cenário sujo, meio faroeste, combina perfeitamente com o personagem principal. A trilha sonora acompanha essa linha de forma que você não precisa olhar para a TV para saber o que está passando.

Outro grande acerto de Jon Favreau foi convidar um diretor diferente para cada episódio. Isso faz a série ter diversas visões, apesar da história não mudar. Cada diretor pode deixar a sua marca e trabalhar no que é melhor. O fato de todos serem fãs da saga também não atrapalha em nada…

Se os personagens da trilogia sequel não cativaram exatamente todo o fandom, não posso dizer o mesmo sobre os da série. Comecei meio que odiando o Greef Karga (Carl Wheaters) e de repente me vi torcendo por ele, por ter aprendido com seus erros. Cara Dune (Gina Carrano) é meu espírito animal! Que personagem sensacional! Forte, guerreira, empática. Socorro! Talvez ela seja uma das minhas personagens preferidas de toda a saga. Sem contar que é linda demais! E Moff Gideon, interpretado brilhantemente por Giancarlo Esposito? Se o sucesso de um vilão se dá pelo ódio que você tem dele, pode-se dizer que ele mais do que cumpriu sua tarefa!

Amigos, precisamos falar de Pedro Pascal, nosso querido Mandaloriano. O que esse homem faz é brincadeira. Comecei pensando: como um personagem que jamais tira o capacete vai transmitir qualquer emoção? Então ele me ensinou e me emocionou. O trabalho corporal é absurdo. O seu silencio e imobilidade dizem o que muitas vezes palavras não conseguem. A emoção que ele transmite na voz contida, tentando controlar tudo a sua volta, mostra de onde ele veio e tudo o que ele passou até chegar ali. E quando ele tira o capacete… Meu Deus! Que ator é esse?!

The Mandalorian tinha tudo para ser uma série para vender boneco. Não é (apesar da Disney estar bem feliz com suas vendas). Grogu não é um Porg. A criança nos cativa de uma forma que não tem só a ver com a sua doçura, ao aprender a viver seus “primeiros” anos. A interação entre o mandaloriano e a pequena criatura é o que faz a história acontecer. Ela é natural. Nada forçada. Uma relação que começa com ele se colocando no lugar do bebê, pois ele mesmo foi uma criança resgatada, e se torna uma relação entre pai e filho. Isso é Star Wars. Não importa que são de espécies e planetas diferentes. É uma relação de amor. De humanidade, apesar de não serem humanos.

Se The Mandalorian salvou realmente Star Wars é algo que o futuro nos dirá. Mas foi ele que fez, quando a Disney anunciou os projetos dos próximos anos, o coração bater mais rápido com a expectativa. Isso foi. Meus olhos brilharam de vontade de ver Obi-Wan Kenobi, Ahsoka, Lando, os Rangers da Nova República, o Esquadrão Rogue (Me abraça, gente! Esse eu tô morrendo até agora!) e tantos outros. Meu Star Wars vive. O dos meus amigos também. Obrigada, Mando! Que a força esteja sempre com você!

DCzete que adora a Marvel, escritora, melhor amiga de Leia Organa, prima do Superman, moradora de Valfenda e membro da Corvinal. Ok! Talvez alguns deles apenas em sua imaginação. Bernard Cornwell e Neil Gaiman guiam sua vida.

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