Les Liens de Sang (Laços de Sangue, em português) é uma animação profunda e arrebatadora. Desenvolvida em 2013, com estréia mundial em 2014, começou apenas como uma ideia de 5 alunos da escola de animação francesa Georges Méliès.
Trata-se de uma família que vive sob as garras de um pai tirano, mas a filha mais nova irá procurar sua liberdade no dia de seu aniversário. A temática vai além disso, tratando de temas obscuros e pesados.
Em entrevista por email com o Duas Torres, Thomas Ricquier nos conta mais sobre o trabalho e criação de Les Liens de Sang:
Duas Torres: De onde surgiu a ideia para a animação?
Thomas Ricquier: Na escola Georges Méliès, há um processo em que os alunos trabalham em uma ideia para apresentá-la a um júri. Então, algumas ideias são selecionadas e criamos uma equipe para trabalhar nessa ideia. A idéia de Manon (Manon Lazzari, uma das criadoras) foi selecionada, e foi sobre uma briga de família durante um jantar. Então, criamos a equipe e, em seguida, queríamos reformular a história para torná-la mais coerente. O que parecia ser o mais importante era o conceito de família. Como definimos o que é uma família? Qual tema poderia ser realmente problemático dentro de uma família e como poderíamos contar essa história em um formato muito curto? Então escolhemos o tema de um incesto secreto, porque é uma questão realmente profunda, psicologicamente complexa, universal e impactante. Nós também queríamos contar essa história com muito simbolismo, e esse tema foi muito inspirador para nós.
DT: Que tipo de programa foi utilizado?
TR: Para este filme, usamos muitos programas de computação gráfica diferentes. Durante a pré-produção, acabamos por fazer as artes conceituais com o Photoshop. Então, quando a produção começou, o software principal era o Autodesk Maya, que aprendemos na escola. Foi o núcleo do nosso projeto. Trata-se de modelagem, rigging, animação, simulação de pano. A computação 3D contém muitas tarefas diferentes, e existem alguns programas menores que são feitos para fazer apenas um deles (como texturização, por exemplo), mas mais rápido e melhor. Então, acabamos usando programas menores também.
Sobre a renderização, usamos o V-Ray. É um programa de três partes, cujo papel é calcular imagens fora do Maya, usando algoritmos complexos que reproduzem como a iluminação e os materiais se comportam no mundo real. Esse tipo de computação é chamado de “traçado de raio“. Finalmente, uma vez que essas fotos saíram depois de muitas (muitas) longas horas de computação em diferentes máquinas, fizemos a composição (ou se você preferir chamar de pós-produção) no Nuke e às vezes no After Effects, que são programas feitos para ajudar a finalizar as tomadas, fazendo alguns efeitos especiais, gradação de cor, etc.
DT: Quanto tempo levou para o projeto ficar pronto? Desde pré-produção até estréia? E quantas pessoas trabalharam junto com você?
TR: Nós éramos 5 membros da equipe neste projeto: Manon Lazzari, Sophie Kavouridis, Marion Louw, Simon Pannetrat e eu. Nós trabalhamos nesse projeto durante um ano, cheio de trabalho duro, às vezes difícil, mas incrível! O principal desafio para nós não era a técnica, porque você isso é algo que você sempre pode aprender. Era mais sobre relacionamento humano, como permanecer solidário e focar no trabalho por tanto tempo, enquanto, ao mesmo tempo, nem sempre concordávamos sobre a direção e as idéias. Mas hoje eu acho que nós fizemos isso muito bem.
DT: O curta é incrivelmente cru e obscuro. A ideia de transformar em algo no estilo de “conto de fadas” foi para pegar assuntos que estão “em demanda” e deixá-los mais “aceitáveis” para um público propenso à ressentimentos?
TR: Claro, fazer um conto de fadas obscuro e simbólico era o nosso objetivo. O filme fala sobre segredos e ilusões, em relação ao tema do incesto. Justamente por se tratar de ilusão, nós queríamos ter uma atmosfera elegante e sonhadora (algumas de nossas referências eram comerciais de perfume), em contraste com um assunto aterrorizante. Na primeira vez, pode parecer um ótimo filme, porém sem sentido. No entanto, é quem assiste que define o que quer entender. Lendo os comentários no Youtube, acredito que as pessoas entenderam e aprovaram! Quando avalio o projeto, agora 4 anos após ter sido concluído, percebo que este filme fala, também, sobre controle. Como você pode viver sendo controlado por pessoas que lhe dão a ilusão de que sua vida é algo que você quer, enquanto você não o faz. Além disso, controlar pessoas não é liberdade de forma alguma. Por exemplo, o pai, de certa forma, é escravo de sua família, para manter seu reino e saciar seus desejos. Ele também é escravo do mundo que criou. Finalmente, eu diria que retomar o controle sobre si mesmo, sobre suas decisões e desejos é a melhor liberdade que você pode ter.
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